Olá queridos!
O site do CLARON está divulgando em sua página os contos e poemas vencedores.
Fiquei muito feliz de ter ficado em terceiro lugar no IV Festival de Poesias e Contos do CLARON. Vi os nomes de muitos amigos entre os vencedores, pois foi um concurso aqui de Niterói. Fiquei feliz por eles, também.
Então, decidi publicar o meu conto "Noite Feliz" aqui no blog, também. Espero que gostem!
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| Imagem grátis do pixabay |
Noite Feliz
Andreia
Borges da Silva
Naquela
noite, havia muitas sobras. Sobras de comida, sobras de brinquedos. Até de
móveis.
Ele
remexia de um lado, remexia de outro.
- Opa!
Um caminhão para o meu filho.
Continuou
revirando o lixo. Era dia 25 de dezembro, à noite. A ceia de natal já tinha
acontecido.
Estava
acostumado a revirar o lixo daquele prédio. Sabia que, no dia 25, haveria mais
sobras do que estava acostumado a encontrar.
Antes de
sair de seu barraco, havia prometido ao filho e à esposa que levaria um banquete
para a ceia de natal tardia.
Ivan
estava desempregado. Vivia de fazer pequenos “bicos” pela cidade. Sua esposa
cuidava da casa e do filho, de 9 (nove) anos. De vez em quando, aparecia uma
trouxa de roupa para ela lavar. Não recusava trabalho.
Não
tiveram ceia de natal. Mal tinham o que comer em casa.
O filho
de Ivan estava muito triste por ver seus amiguinhos da comunidade ganhando
presentes no natal, enquanto ele não ganhara nada.
Ivan
explicou que os pais de alguns amigos estavam trabalhando e que, portanto,
tinham dinheiro para comprar presentes para os filhos, enquanto ele estava
desempregado há bastante tempo, vivendo de pequenos biscates, mas que prometia
levar um brinquedo para ele, na noite do dia 25.
Ele não
queria decepcionar o filho.
- Nem
que eu remexa o lixo de todos os prédios da zona sul, mas não volto para casa
sem um brinquedo para o meu filho.
Quando
encontrou o caminhão, ficou mais tranquilo. Uma parte de sua missão naquela
noite estava cumprida.
Faltava
encontrar bastante comida para a ceia de sua família. Queria levar uma comida
diferente, especial, dessas que só vemos no Natal.
Então,
ele voltou a remexer o lixo.
Encontrou
restos de bacalhoada. Encontrou também restos de frutas cristalizadas e de
castanhas portuguesas.
Um cachorro
de rua sentiu o cheiro de comida e apareceu para revirar o lixo com Ivan.
-
Companheiro, hoje tem banquete para mim e para você. Não tem miséria aqui, não.
Pegou
parte da bacalhoada e deu para o cão, que engoliu rapidamente, pois estava
faminto.
Ivan
continuou revirando o lixo. O cão também queria encontrar mais comida e ficou
por ali.
Ivan
achou um resto de arroz todo incrementado. Tratou de dar logo um pouco para o
totó, que continuava faminto.
Após
algum tempo, achou também um peru de natal inteiro, só estava com uma parte
queimada, nada que sua esposa não pudesse resolver, raspando o queimado.
-
Companheiro, esse peru não vou poder dividir contigo, não. É da patroa. O cão
olhava para ele e só sabia fazer cara de faminto.
Encontrou
ainda um banco de madeira, que estava em bom estado. Resolveu levá-lo para
casa, também. Seria o presente de sua esposa. Daria uma boa envernizada e
ficaria perfeito novamente.
Um
morador do prédio passou por Ivan e sequer olhou para ele.
Estava
acostumado com o desprezo das pessoas. Era um morador de comunidade,
desempregado e catador de lixo. As pessoas ali da zona sul não costumavam nem
olhar para ele. Sentia-se um homem invisível. Achava até melhor assim, pois
podia catar o lixo em paz.
- Que me
deixem em paz mesmo!
Havia
apenas uma moradora daquele prédio que sempre olhava para Ivan, com olhar de
compaixão. Até dava uns trocados para ele de vez em quando. Era a Dona Celeste.
Era uma Senhora com olhar bondoso e muito simpática. Devia já estar dormindo
naquele horário.
Ivan
passou a procurar por sobremesa. Achou um restinho de pavê. Também encontrou um
pedaço de panetone.
- Acho
que já consegui o suficiente. Hoje a festa lá em casa vai ser boa.
Quando
fez menção de ir embora, o cachorro começou a querer segui-lo.
- Totó,
não posso te levar pra casa, não. Você vai passar fome. Fica por aqui, que
sempre sobra comida desses ricos.
O cão
olhava para Ivan como se entendesse, mas não concordasse. Todo mundo o
enxotava, já Ivan havia dividido sua comida com ele.
Ivan
começou a dar os primeiros passos e o cão passou a segui-lo.
- Ih já
vi que você não vai mais desgrudar de mim. Quer ir passar fome comigo? Então,
vamos.
Ivan
chegou na comunidade carregado de coisas. Levou o banco, o caminhão e muita
comida. Tinha o cão também que, pelo visto, passaria a fazer parte da família.
Quando
chegou, seu filho já estava dormindo. O menino tinha pedido para a mãe que o
acordasse quando o pai chegasse, pois estava ansioso pelo seu presente.
Ivan
entregou o banco, bem como a comida para a esposa esquentar, e foi procurar um
papel bonito para embrulhar o presente do filho.
- Ivan,
que cachorro é esse?
- Maria,
ele veio me seguindo de lá da zona sul. Não pude fazer nada.
- Sabe
que a gente não tem comida pra alimentar mais uma boca, não sabe?
- Falei
pra ele, mas ele quis vir assim mesmo.
- Ah
Ivan! Cachorro não entende o que a gente fala. Você é que quis trazer ele.
Ivan
conseguiu achar um pedaço de papel colorido. Fez um bonito embrulho para o
filho.
Maria
esquentou a comida. Depois colocou tudo na mesa, inclusive os restos de doces.
- Tá
parecendo ceia de gente rica. Obrigada meu Deus!
-
Agradeça pra mim, também, pois eu é que fui buscar a nossa comida.
Enquanto
falavam, o menino acordou.
Ivan já
estava com o seu presente nas mãos. E tratou logo de entregar para o filho.
O menino
abriu rapidamente o presente e ficou tão feliz, que começou a chorar, pois o
caminhão era exatamente do jeito que ele sonhara.
-
Brigado, pai. É do jeitinho que eu sonhei.
- Não
precisa chorar, filho. Você merece. Assim que o pai conseguir um emprego, vai
poder comprar vários caminhões como esse aí pra você.
- E tem
comida também, como o senhor prometeu. E esse cachorro?
- Ele me
seguiu. Agora vai ficar com a gente.
- Oba!
Adorei mais esse presente.
Os três
sentaram-se e se deliciaram com toda aquela comida. O cão também teve uma noite
de abastança.
- Pai, o
senhor ganhou toda essa comida? O senhor falou que não tem dinheiro.
- É
quase isso, filho. Sobrou muita comida dos ricos da zona sul. Então, eles
deixaram pros pobres.
- Ah
entendi. Que bom, pai.
Enquanto
isso, em um dos apartamentos do prédio da zona sul:
- Vocês
viram aquele morador de rua revirando o nosso lixo? Vi daqui da janela.
- Ai,
que nojo.
- Eles
fazem uma bagunça! Fica tudo revirado.
Enquanto
no apartamento ao lado, Seu Baltazar fazia suas orações, pedindo por dias
melhores para o mundo.















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